Desde 2014, quando nos encontramos na Irlanda para nossa primeira viagem juntas, minha filha Julia tem sido uma super companheira de viagem. Com sua habilidade nas consultas ao Google Maps, timetables de trens e ônibus e mapas, tornou-se minha copilota oficial. 😉
Juntas já passamos por muitas aventuras! Uma delas foi na região de Lavaux, na Suíça, uma belíssima região vinífera às margens do Lac Lèman. Seus vinhedos, dispostos em terraços construídos na Idade Média, são patrimônio da UNESCO. A principal uva da região é a Chasselas, que resulta em um vinho branco fresco e frutado.
Era fim de verão e os dias ainda estavam bem quentes, com temperaturas perto de 30 graus. No dia seguinte à nossa chegada, estava prevista uma promissora caminhada pelos vinhedos de Lavaux. Há diversas rotas de caminhada pelas pequenas vilas que fazem parte da região, com ótimos restaurantes, cafés e adegas no caminho.
Partimos da estação de Chexbres com destino à pequena vila de Epesses, de apenas 330 habitantes, onde nos aguardava uma degustação no Les 11 Terres, uma vinoteca e épicerie com produtos artesanais de 11 domaines.
Observando pela janela, reconheci o entorno e me dei conta que havia passado por aquela vila cinco anos antes em visita a um destacado produtor de vinhos, Patrick Fonjallaz, cuja vinícola é uma das mais antigas da Europa. Ao sair de lá, coincidentemente, vimos o Patrick se despedindo de um grupo de chineses eufóricos que havia aterrisado na vila pouco tempo antes, e resolvemos cumprimentá-lo. Descendo a pequena ladeira, ele nos enredou pelos braços e disse, simpático: “Vamos lá tomar um vinho”. Lembrava muito bem daquele terraço redondo de madeira e do visual que tínhamos de lá, um dos mais bonitos de Lavaux. O céu ainda estava acinzentado pela chuva mas o cenário dos vinhedos verdinhos que desembocavam no lago com os Alpes franceses ao fundo era de arrepiar.
Patrick faz parte da décima segunda geração de seu negócio de família. Ele conta em tom de ironia que, quando Deus fez o mundo, deu aos suíços aqueles terraços maravilhosos, um grande lago reluzente e um microclima perfeito. Mas achou que era muito, então deu também uns vizinhos chatos (os franceses, do outro lado do lago) pra quebrar a monotonia.
Já havíamos liquidado uma garrafa de um dos seus bons Chardonays quando consultamos a hora e vimos que o último trem partiria dali a minutos. Patrick nos ofereceu uma carona até a estação mas eu achei que estaríamos abusando e recusei, o que deixou a Ju inconformada. Perdemos o trem, mas não chegou a ser um grande sacrifício ficar ali naquela estação que passava no meio de um vinhedo, comendo uvas e assistindo o pôr-do-sol, enquanto esperávamos o próximo. Veja a situação…
O trem seguinte não parou na estação, nem o segundo, nem o terceiro. Já estava escuro quando cogitamos caminhar por 1h e 40min até nosso hotel em Vevey, quando tivemos ideia de consultar no Google se havia ônibus próximo. Por sorte o ponto era ali pertinho e em 20 minutos estávamos de volta, aliviadas e felizes.
PS: no artigo “A Suíça de Chaplin” publicado na Revista Clube Paladar eu conto um pouco das regiões viníferas, dos vinhos suíços e de um de seus ilustres admiradores, Charles Chaplin.