Luc e as letras

1 de março de 2018 / cotidiano

Começou com as canções de ABC em vídeo, que ele assistia desde um ano e meio. No seu aniversário de dois anos, já mostrando interesse pelas letras, ganhou da tia Alice um alfabeto magnético de colar na geladeira, o brinquedo mais utilizado de todos os tempos. A essa altura já estava declarada sua paixão pelas letras.

 

 

Conhecendo as formas e os nomes das letras, começou a vê-las em todo lugar. Um galhinho quebrado era um “V”, um biscoito era um “O”, lajotas dispostas no chão formavam um “H”.

Aprendeu a fazer letras com as mãos, como uma língua de sinais. Daí pra começar a escrever foi um pulo. Procurei provê-lo de materiais que o permitissem desenvolver seu gosto, como giz de cera, lápis, papel, lousa…as paredes da casa! E muitos livros infantis, claro.

“Papai, faz letrinhas de queijo?” ele pedia no café da manhã.

 

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Aos 2 anos e 9 meses começou a escrever as primeiras palavrinhas: a primeira foi “pai”. De repente olhei na lousa e estava lá escrito. “Van” também foi espontâneo (de Vanessa, sua babá na época). Enciumada, ensinei ele a escrever “mamãe” 🙂

Estávamos na Fazenda Aracatu, em Cunha, e na espera do sorvete ele leu: “A-qui-tem-lei-te-de-va-ca…mamãe, o que está escrito?” Era Jersey. Foi sua primeira frase… aos 2 anos e 11.

 

Sua primeira assinatura

Sua primeira assinatura

 

Depois veio aquela fase que lê tudo quanto é palavra que aparece pela frente. Também ficava fazendo ditado, pedindo pra escrevermos as palavras que ele falava. Sua cuidadora no berçário, a tia Cidinha, ganhou o apelido de tia “Cedilha”, dado por ele.

Minha postura desde o início foi, basicamente, observar e responder suas perguntas (além de registrar em textos, fotos e vídeos rsrs). De fato, ele nunca precisou de estímulo para essa exploração do mundo das letras, sua curiosidade o conduz por si só.

A certa altura, por conta dele reagir a tudo na base do grito, fosse alegria, empolgação ou contrariedade, achamos que era o caso buscar acompanhamento psicológico. Daí tiramos a conclusão que era necessário estimulá-lo a brincar. Brincar com brinquedos, inventar jogos lúdicos e de imaginação. Tirá-lo um pouco do prático, do palpável, do mundo dos adultos. Com irmãos bem mais velhos e convivendo mais com adultos que com crianças, foi preciso eu me transferir um pouco para o mundo dele, o infantil. Diariamente, sentava no chão e começava a brincadeira. Ele seguia e interagia comigo. Aos poucos, comecei a vê-lo criar as brincadeiras sozinho. Quando o vi pegar dois palitos e criar um diálogo entre os dois, tive a sensação de missão cumprida (ao menos, esta etapa).

 

letras-animadas

 

Ajudaram muito a entrada no maternal e a atuação da professora que valorizava essencialmente a brincadeira como meio de sociabilização e desenvolvimento motor. E a aquisição de autonomia também.

Com os estímulos adequados por um lado, por outro o Luc continuou a desenvolver seu interesse pelas letras. Veio a fase do Google Tradutor: digitava em português, lia e ouvia em outro idioma, ora inglês, ora francês, alemão, árabe, persa, islandês!

Para minha satisfação, começou a progredir nos desenhos também, e logo juntou os dois: histórias em quadrinhos.

 

quadrinhos

 

Ouvi por aí algumas sugestões: “porque você não busca uma escola especial para que desenvolva esse talento?”. Particularmente, acho que seria trágico. Na primeira infância, muito mais que o desenvolvimento intelectual, a preocupação deveria ser com o desenvolvimento emocional. Permitir que sejam felizes, só.

A psicanalista francesa especializada em infância, Françoise Dolto, dizia a respeito das crianças que possuem um interesse exacerbado, que o mais interessante a se esperar é um desenvolvimento homogêneo: “A inteligência é, em primeiro lugar, inteligência motora, depois inteligência verbal, ou seja, a criança é em primeiro lugar muito precoce no andar, na destreza corporal e manual e na palavra. É também extremamente “chato” nesse caso, por incomodar sem parar.” Eu que o diga!

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Pensamento ilustrado no bloco de notas

 

Seu mais recente suporte foi uma máquina de escrever, presente de um amigo. Se ele gostou? Bem…

 

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